adormecias ao meu colo e, lá para trás de nós, tiros mas não morri, não morri, morro um dia destes e vou ter tantas saudades, como dizia o Poeta virei no vento espreitar-te, tocar-te com um dedo na pontinha do nariz, o que mais quero neste mundo é tocar-te com um dedo na pontinha do nariz, há lá coisa melhor do que tocar-te com um dedo na pontinha do nariz e pedir baixinho

– Acorda.

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#τ #β

[https://visao.pt/opiniao/a/antonio-lobo-antunes/2019-02-15-tocar-te-com-um-dedo-na-pontinha-do-nariz/]

Ilustração: Susa Monteiro

A partir dos cinquenta quem manda é o cavalo

[...] seja o que for que encontrem não é a mim que encontram: eu estarei muito longe, onde se vê o mar, em gritos de gaivota pequenina. Depois levanto voo até um penedo qualquer de onde a minha avó me chama

– Filho

e eu, todo contente, ao seu colo, a mostrar-lhe a minha colecção de capicuas.

[https://visao.pt/opiniao/a/antonio-lobo-antunes/2019-01-10-a-partir-dos-cinquenta-quem-manda-e-o-cavalo/]

Ilustração: Susa Monteiro

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Depende do azul

«(...) estava uma tarde linda no Cais do Sodré apesar das buzinelas do trânsito entupido. O irmão Elias chegouse à beira-rio com a cruz, a gente chegou-se à beira-rio com a caixa e as imensas pessoas que olhavam para nós, admiradas com a cruz e com o facto de cantarmos graças ao Senhor, chegaram-se à beira-rio com o jornal e a pasta do emprego (...)»

António Lobo Antunes
in Público Magazine, 13 de Agosto 1995

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Agora não, tem paciência

«O telefone tocou no quarto e a mulher levantou-se para atender. Ao contrário do que esperava sentiu-se bem sozinho. Instalou-se melhor no sofá. A mulher riu ao telefone. Sorriu ao riso da mulher e apoiou a nuca no espaldar. Nada fazia sentido e contudo não se ralava com isso. Não se ralava com o que quer que fosse.»

Antóno Lobo Antunes
in Visão, 25 de Janeiro de 2001

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