descaso
o destino que me valha!
você deixou seu fósforo aceso
dentro de minha vida de palha.
Karina Rabinovitz
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adormecias ao meu colo e, lá para trás de nós, tiros mas não morri, não morri, morro um dia destes e vou ter tantas saudades, como dizia o Poeta virei no vento espreitar-te, tocar-te com um dedo na pontinha do nariz, o que mais quero neste mundo é tocar-te com um dedo na pontinha do nariz, há lá coisa melhor do que tocar-te com um dedo na pontinha do nariz e pedir baixinho
– Acorda.
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Ilustração: Susa Monteiro
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Se pudesse dormia.
Tão breve a noite,
tão longo o dia...
Yvette Centeno
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in Memória Doutro Rio
Edição da ASSÍRIO & ALVIM
https://www.wook.pt/livro/memoria-doutro-rio-eugenio-de-andrade/15968978
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Pasolini leitor d’Os Lusíadas
A leitura do poema de Camões, na tradução de Antonio Nervi, remonta à sua adolescência. Ficou tão intensamente gravada na sua memória, que em 1970, no prefácio à antologia de versos intitulada Poesie, recorda: “Aos 13 anos fui poeta épico (da Ilíada aos Lusíadas)”.
[https://visao.pt/jornaldeletras/letras/2023-01-25-pasolini-leitor-dos-lusiadas/]
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A partir dos cinquenta quem manda é o cavalo
[...] seja o que for que encontrem não é a mim que encontram: eu estarei muito longe, onde se vê o mar, em gritos de gaivota pequenina. Depois levanto voo até um penedo qualquer de onde a minha avó me chama
– Filho
e eu, todo contente, ao seu colo, a mostrar-lhe a minha colecção de capicuas.
Ilustração: Susa Monteiro
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Os pássaros têm duas asas. Eu tenho duas janelas: uma da terra, outra do mar. Numa me nasce o dia e outra me entrega o noite, a estrelinha da cela, a flor ofélica da lua — afogada ao lume das águas que não conseguem arrastá-la na língua da maré, medusa morta, até à beirada, Uma sinto-a como âncora e prende-me à terra, às tarefas, ao quotidiano. Outra é-me vela e asa, evasão e sonho e por ela bebo o azul, o longe e a distância.
Luísa Dacosta
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Desencontro (1)
Não ter morada
habitar
como um beijo
entre os lábios
fingir-se ausente
e suspirar
(o meu corpo
não se reconhece na espera)
percorrer com um só gesto
o teu corpo
e beber toda a ternura
para refazer
o rosto em que desapareces
o abraço em que desobedeces
Mia Couto
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Ao largo, distancia-se um navio
Ao largo, distancia-se um navio e leva as minhas raízes dolorosas. Para longe seja! Corta e alivia saber que, em pedaços, me rasga o vento. Que pelo ar se espalham, se rompem, se esgarçam noites cegas de tanta solidão. Que no voo do tempo, cruzado pelo voo ignorante das aves, se desfolha e desprende a minha impetuosidade quebrada contra as pedras e os gelos lembranças sidas, o que me foi e fui (...)
Luísa Dacosta
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O Tempo
Uns viram-se para fora
outros viram-se para dentro
entre o fora e o dentro
o Tempo
Yvette Centeno
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Morre-se aqui de insónia. E fica-se doente
com as más digestões, que nos deixam o estômago
em acidez ardendo... Onde encontrar um sítio
propício para o sono? É que só os mais ricos
poderão afinal dormir nesta cidade.
[...]
Nós, que vamos a pé, temos de suportar
a torrente de quem caminha à nossa frente
e a torrente de quem nos empurra p'las costas
David Mourão-Ferreira, "Juvenal -- Fragmentos de Sátiras. 2", Colóquio/Letras, n.º 163,
Jan. 2003, p. 142
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Sigo no objetivo (quem tem meta é empresa) de incluir mais autores africanos nas minhas leituras. O escolhido da vez foi "Balada de amor ao vento", da moçambicana Paulina Chiziane. Avancei bem no livro ontem, a escrita é envolvente, mas estou no início ainda. Mas estou gostando.
No rio da memória
à Dídia,
para Stephen Reckert, in memoriam
Deitado,
já não dormia.
A aurora veio buscá-lo
com os seus dedos de rosa.
Na varanda,
em frente ao rio,
lembrou os versos antigos:
versos de despedida,
ninfas
e as suas lágrimas…
Uma luz no horizonte
já lhe devolvia
a vida
Ficava,
enquanto partia.
Yvette K. Centeno
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Ao desconcerto do Mundo
Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.
Luís de Camões
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Mulher diante do espelho
A vida retirava-se dela como daquelas vilas antigas que tinham tido sete portas, sete igrejas, sete palácios, sete praças e se apagavam presas de esgarçados panais de muralhas, em ruínas, entre conventos desertos, fontes de bicas secas, brasões de armas de cavaleiros de perdidas idades — habitadas pelos voos, fantasmais, das cegonhas, que nas torres sineiras, viúvas de sons e de sinos, faziam ninho.
Luísa Dacosta
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Não representam a realidade. Nem sequer o puro sonho. Perseguem o símbolo e a essência das coisas, como a poesia. Obsessivamente captam a inspiração jovem e imudada que acompanhou o poeta e o pintor, ao longo da vida. Umas vezes Íntima, familiar [...] Outras etérea, quase alada, como uma brisa, uma asa, um sopro. Ora apaixonada e ardente, face ao poeta jovem. Ora acolhedora e materna para o velho poeta.
Luísa Dacosta
In: Revista Colóquio/Letras
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— Para Tebas? Ora essa!… Que foi ela lá fazer?
— Alindar as vistas, murmurou Alpedrinha com desolação.
— Que descarada! Gritei eu, varado. Então com um italiano? E gostando dele? Ou só negócio?… Hein, gostando?
— Babadinha, balbuciou Alpedrinha.
— Alpedrinha, tu suspiraste! Aqui há perfídia, Alpedrinha!
...
— Alpedrinha, escarra a verdade! A Maricoquinhas, hein? Também petiscaste?
— Também petisquei!
Eça de Queirós (adaptado)
in A Relíquia [https://imprensanacional.pt/wp-content/uploads/2022/09/A-Reliquia._miolo_AF_25_11_2021.pdf]
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O pastor em imagens
A queda é quase invisível. Começa a ser, primeiro. Depois é a submersão. A água brilha muito mais agora. O cão acorda. As ovelhas continuam no andamento das éclogas. Corre, ladra. De cima do barranco suas patas seguram a terra. O pastor acorda. Lento erguer de pálpebras contra o peito apressado.
Ana Hatherly
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Fez
(...) regresso a Fez, e como Anaïs é-me difícil esquecer a cidade, tão açúcar, entre as muralhas canela, a frescura das pétalas de rosas, todos os dias frescas na taça da casa de banho e espalhadas no tapete. O meu coração ficou preso à cidade.
Luísa Dacosta,
"Fez", Colóquio/Letras, n.º 181, Set. 2012, p. 153-155
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Autobiografia
[...]
Lembro-me de não poder falar
e de sentir saudades perseguidas
do meu primeiro tempo
em que escrevia coisas.
Saudades.
Então fui ter com elas.
Estranhas damas de dentro
que não saem de casa
estranhas damas sentadas
em cadeiras mentais
fui ter com elas
porque em verdade lembro-me
que não podia mais
e tinha de as matar.
[...]
Yvette K. Centeno
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